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Património Cultural

RP - Revista Património, Nº 4

RP - Revista Património, Nº 4

Resumo Gráfico da RP4

Editorial da Revista Património quatro

As transformações incontornáveis do mundo atual alteraram radicalmente o entendimento e a situação global da cultura e o significado coletivo dos fenómenos culturais. Nunca como hoje as sociedades tiveram acesso a tão grande quantidade de informação. A rapidez com que hoje se comunica e o alcance e a capacidade mobilizadora das redes sociais alteram paradigmas, transformam estruturas, formas de trabalhar, mentalidades e posicionamentos ideológicos. A incerteza quanto ao futuro, pela volatilidade das matrizes com que operamos, levam-nos a problematizar permanentemente o papel ambivalente do património cultural na sociedade atual, os riscos e os desafios com que se depara. O crescimento exponencial da mobilidade da população no planeta, os efeitos das alterações climáticas derivadas do aquecimento global, o aumento avassalador da indústria do turismo, a proliferação de conflitos armados, os movimentos migratórios, o terrorismo, mas, acima de tudo, o aumento do fosso entre pobreza e riqueza levam-nos a questionar a utilidade do património cultural (no seu sentido mais lato) para a sociedade e aquilo que é hoje mais relevante.

Por tudo isto, «Património e Sociedade» foi o mote para reunir no Caderno desta RP um conjunto de textos que, em diferentes domínios do Património Cultural, refletem sobre a atualidade e nos colocam perante incertezas, caminhos e alternativas possíveis. O património urbano, presente e futuro, é aqui abordado sob diversas perspetivas. Uma que nos fala acerca da sua qualidade de resiliência, sobre a sua capacidade de regeneração e invenção, que lhe assegure um futuro em que não fique “refém da ação e da retórica do mercado turístico da nostalgia”. Outra, que destaca o património social a proteger perante a guetização, a gentrificação e a turistificação, fenómenos decorrentes das mais recentes transformações das economias urbanas, que aponta a necessidade da re-valorização dos lugares e das relações de vizinhança em vias de extinção, trazendo à tona os projetos de Siza Vieira apresentados na última Bienal de Arquitetura de Veneza. E, outra ainda, uma reflexão que foca a essencialidade da ideia de cidade e o reconhecimento do seu caráter transformativo, das suas contradições, dos seus paradoxos, diálogos e conflitos, obrigando a um comprometimento alargado de «princípios, estratégias e direitos» que impeça a perda de um continuum de valores e identidades que a façam única e reconhecível.

 

Num outro âmbito, o dos museus, diferentes artigos reequacionam questões fundamentais sobre a função, as prioridades e a relevância destes espaços públicos, para a sociedade. Por um lado, as relações entre o museu e os contextos são indispensáveis, ainda que os contextos e as comunidades saiam do estrito domínio territorial físico e se expandam pelo território global da Internet. Por outro, a centralidade da questão da mediação entre o museu e os seus públicos conduz a novos modelos, inclusivos, cruzando territórios e atores, num horizonte dominado sobretudo pela permanente problematização. E, por outro ainda, o apelo

do avanço inexorável das tecnologias de informação e comunicação no planeta possibilita aos museus a disponibilização de informação em massa para um consumo individual, num processo de reprodução em crescimento exponencial, aqui trazido pelo caso do Rijksmuseum de Amesterdão.

A completar a rúbrica Caderno, uma visão crítica da crise da arqueologia numa sociedade em crise, subordinada ao espetáculo e ao turismo, «onde a cultura se tornou central, mas como indústria cultural», apontando fragilidades atuais mas deixando também a esperança de «novas relações com a historicidade humana», num futuro talvez ainda distante.

A rubrica Pensamento traz-nos uma reflexão acerca dos sistemas de credenciação de museus em vários países europeus, na perspetiva da sua dimensão social, focando as respetivas operacionalizações do conceito de museu, em particular no acesso dos públicos e nos benefícios para a sociedade.

Projetos dá-nos conta de 3 intervenções de recuperação e valorização em diferentes contextos, levando-nos a refletir sobre metodologias e critérios. A conservação do Forte da Graça, em Elvas, inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO em 2012, dá corpo a um artigo que descreve, circunstanciadamente, o sistema defensivo e o funcionamento das estruturas edificadas, apontando as linhas de orientação e as metodologias aplicadas; o projeto de intervenção realizado na Torre dos Clérigos, no Porto, nas componentes de conservação, restauro e valorização, destaca ainda em texto próprio o respetivo projeto de musealização; e um ensaio crítico acerca do projeto de intervenção para o claustro da Sé Catedral de Lisboa, enquadrado por artigos no domínio da história da arquitetura e da arqueologia daquele lugar.

A importância da arte contemporânea para a requalificação do Património Cultural é objeto de uma reflexão na rubrica Opinião, a partir do projeto MatrizMalhoa (MM), experiência onde se procurou uma matriz projetual radicada na interrupção e na reestruturação efémeras da narrativa de um museu, abrindo caminho a novas leituras e reinterpretações.

Por último, e redundantemente no caso desta RP4, na rubrica Sociedade, dois textos: um que nos faz revisitar os interiores da Baixa Pombalina em Lisboa, numa perspetiva crítica que questiona friamente práticas atuais de gestão e de intervenção, num contexto agravado pela aceleração das operações imobiliárias decorrentes do crescimento do turismo na capital; e um segundo texto, que nos dá conta do premiado projeto SOS Azulejo, da sua história, das suas iniciativas e do que se pode esperar do seu contributo para a proteção deste singular património português.

Manuel Lacerda

Reference: IPPBREV1765081

Author: VA

Local: Lisboa

Edition: DGPC

Date: Dec. 8, 2016

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